Sem choro, sem
vela, sem aviso prévio. Apenas uma mensagem dela no meu celular dizendo que ia
embora e que Deus me abençoasse. Simples assim. Depois de quase dois anos de
convivência, carteira assinadíssima, direitos em dia, salário mais do que
compatível com a categoria, horários super flexíveis, tolerâncias de todas as
naturezas. Até médico particular paguei assim como os medicamentos
prescritos... Isso de nada adiantou.
O fato é que desde
que minha filha nasceu, há quatro anos, vivo esse drama. E a história se repete
indefinidamente: a gente procura uma pessoa boa, de confiança, treina essa
pessoa, colabora com ela – sei que as tarefas domésticas são muitas -
valoriza-se o trabalho dela, afinal, a empregada ainda é considerada “o braço
direito da dona de casa”, ou não?
A realidade é que
não se encontra mais essa profissional e a cada dia que passa essa dificuldade
só aumenta. A nova PEC está aí para provar.
E agora, o que eu
faço já que fui abandonada mais uma vez? Vou ficar aqui chorando? Não. Não vou
mesmo. Decidi dar um basta nessa história.
E decidi que vou
arregaçar as mangas. Vou botar pra quebrar. Então é um tal de ler zilhões de
blogs na internet sobre vida sem empregada doméstica, até o Jornal da Pampulha
me caiu como uma luva hoje, com a matéria “O futuro já começou” http://www.otempo.com.br/pampulha/reportagem/o-futuro-j%C3%A1-come%C3%A7ou-1.655756.
Esse texto parece ter sido feito para mim!
E é isso mesmo:
pesquisadora doutora, pós-doutora e dona-de-casa com muito orgulho. Ou melhor:
dona da casa. E sabe que não é esse bicho de sete cabeças, não? Na verdade até
que é bem fácil e vou dizer o porquê. É porque, diferentemente da maioria das empregadas
domésticas, eu leio e sigo as recomendações dos rótulos dos produtos, eu
planejo e trabalho com organização e método. E não preciso gastar todo o tempo
do mundo fazendo faxina, passando roupa e cozinhando não senhor. As tarefas são
divididas e executadas ao longo da semana no tempo máximo de 40 a 50 minutos
diários. Ah, e os finais de semana são proibidos para o trabalho doméstico. Meu
marido participa de tudo, é claro. A minha filhinha também, na razoabilidade de
sua idade.
Sinto que
além de jogar para bem longe os aborrecimentos e frustrações com as empregadas
domésticas, essa nova etapa está unindo minha família. Mais do que isso. Ao
contrário de mim, que fui preparada para ser uma mulher com uma carreira de
sucesso, mas ao mesmo tempo totalmente perdida no que diz respeito às questões
práticas da vida doméstica, minha filha, sim, poderá se tornar uma pessoa com o
pacote completo e por isso mesmo, ser muito mais independente e feliz.