sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Empregadas domésticas - o outro lado da moeda


Muito se fala nos direitos das empregadas domésticas. É verdade que há uma dívida histórica com essas trabalhadoras, já que muitas sofreram vários tipos de abusos por parte de seus patrões, como por exemplo, baixos salários, carga horária excessiva sem direito à folga, entre outras questões.

Ocorre que esse cenário vem mudando muito ao longo dos anos. Os direitos trabalhistas já estão assegurados e cada vez mais as empregadas domésticas se aproximam do mesmo patamar dos demais trabalhadores brasileiros: carteira assinada, vale-transporte, INSS, seguro-desemprego e, mais recentemente, a inscrição no FGTS, entre outros benefícios.

Mas o que ninguém discute é como a relação entre a empregada doméstica e seus empregadores vem ocorrendo na prática ultimamente. Sabe-se que é quase impossível encontrar uma empregada doméstica, o que tem sido mostrado pelo próprio IBGE (para saber mais: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=2222&id_pagina=1). O resultado disso é que agora quem está se tornando o elo mais frágil da relação são os empregadores. E as exigências por parte delas não param: receber, no mínimo, dois salários sem descontos, estando, ainda, de fora a despesas com passagens, não trabalhar aos sábados, emendar os feriados e não ter propriamente uma carga horária de trabalho definida (pode até ter hora para entrar, mas querem liberdade para escolher a hora da saída).

Na minha experiência, já vivi tudo isso. Já tive diarista que queria trabalhar no máximo 5 horas. Ora, não é diarista? O que corresponde a um dia de trabalho? Não são 8 horas? Isso também aconteceu com uma mensalista. Ela queria chegar às 9:30h da manhã e sair às 15:00h, com todos os benefícios que mencionei: dois salários sem desconto, etc, etc. E o telefone celular que nunca pára?!

Outro ponto importante: acreditar que o trabalho doméstico é fácil e que pode ser feito por qualquer um é um grande erro. As empregadas domésticas executam diversas tarefas em que é preciso qualificação: cozinhar, arrumar, limpar, passar. Para cada uma dessas atividades, existem regras a serem cumpridas. Nas boas práticas de cozinha, por exemplo, estão abolidos os cabelos soltos, unhas pintadas e bijouterias, pois nunca devemos nos esquecer que os alimentos mal preparados são fonte de infecções. Já quanto à limpeza é importante destacar que o manuseio incorreto de produtos corrosivos, detergentes e abrasivos pode causar sérios danos à saúde, bem como danificar pisos, superfícies, tecidos, etc. Já no cuidado com as roupas, vale lembrar que o excesso de sabão em pó, por exemplo, além de ser um desperdício em termos financeiros, estraga os tecidos. Enfim são muitos os detalhes e exigências para que o trabalho doméstico seja executado de forma satisfatória.

E nesse quesito, como estão essas trabalhadoras? Bem, a falta de qualificação é uma realidade dessas profissionais, já que a maioria das trabalhadoras domésticas possui baixa ou nenhuma escolaridade. Por mais que tenhamos paciência – e tenho muita, por sinal – esbarramos nas dificuldades ENORMES delas de entender bilhetes e orientações simples. Uma vez eu disse assim: não jogue água no chão do banheiro, aqui eu não faço assim, tenho armários de madeira que estragam se ficarem encharcados. No minuto em que virei as costas, só ouvi aquele barulhão de aguaceira.

E aquela mãozinha tosca que quebra até o inquebrável? Parece que elas estão indo para um campo de batalha e não limpar um apartamento. Delicadeza, por favor!

Sabe aquelas suas panelas de teflon novinhas caras, que comprou dividindo em cinco prestações? Então, elas serão estragadas com uma semana de uso, por mais que você tenha explicado que só se usa colher de plástico – que você também comprou para usar com as tais panelas. E ferro de passar? Quantas vezes já comprou ferro de passar esse ano? E aspirador de pó? O coitadinho nunca é limpo e é sempre desligado direto na tomada (o mesmo acontece com o ferro de passar, claro!). Ler manuais e rótulos pra quê? Não servem mesmo para nada!!!

Daí você tenta melhorar essa situação toda, investe na formação delas, paga cursos, chama nutricionista em casa, etc, etc. E pensando na motivação para o trabalho, estabelece que se ela ficar um ano na sua casa vai pagar um plano de saúde para ela. E propõe, ainda, que nos anos subsequentes vai pagar também os planos dos filhos dela. E assim vai criando um plano de carreira, ainda que tenha lá suas limitações, para que assim sua empregada doméstica se sinta valorizada e queira continuar com você.

E no final das contas, não é nada disso o que acontece. Hoje não se pode contar com essas “profissionais”. Elas adoram faltar às segundas-feiras, por exemplo. Mandam mensagens no nosso celular dizendo “hoje não vai dar para ir”, sem maiores explicações. Mesmo assim a gente tolera isso tudo, afinal, dependemos delas para poder trabalhar também. E, muitas vezes, do nada, a empregada decide pedir as contas e te fala na lata: “não vai dar para continuar não, a partir de amanhã eu não venho mais”. Como assim, nem aviso prévio você vai me dar?

Eu não entendo esse comportamento. Elas não são profissionais? Elas não querem direitos iguais a todos os demais trabalhadores? Se eu me comportasse desse jeito no meu local de trabalho, eu não duraria uma semana, seria sumariamente demitida e com toda razão. Mas as empregadas domésticas não pensam assim: o segredo inconfessável, é que elas não acham que, de fato, estão fazendo um trabalho de verdade, mas sim um favor para a “patroa”. E desse lado da moeda ninguém quer saber, não é?